quarta-feira, 22 de julho de 2015

Meus malvados favoritos


Os minions do cinema são criaturinhas engenhosas que adoram bananas, e se destacam da multidão pelo formato diminuto, a marcante cor amarelo-ouro, e os indefectíveis óculos e suspensórios. Por trás da estética de brinquedinho de lanchonete, porém, eles ocultam um propósito funesto: a razão da sua existência é servir ao vilão mais terrível que conseguirem encontrar.
Dificilmente cruzaremos, ao vivo, com uma só criatura que tenha essa exótica descrição. Porém, se desprezarmos tais detalhes cosméticos, perceberemos facilmente que estamos cercados por minions.
Os minions reais, assim como os da ficção, também parecem à primeira vista inofensivos, e até engraçadinhos. Ah, não acha que minions reais possam ser cômicos? Bem, a próxima vez que vir um figurão escoltado por um séquito de bajuladores, tente imaginar a trupe que o segue, que vive repetindo e aplaudindo tudo o que ele diz, como um bando de pequenos seres amarelos. É, parecem humanos, mas são minions. E podem até ser engraçados de vez em quando, mas nada tem de inofensivos. Por trás de cada ditador, sempre existirá uma legião de minions.
Os minions da sétima arte pelo menos possuem uma atenuante para seu comportamento: servir a um líder faz parte da sua natureza. Eles não visam qualquer lucro com isso, o fazem apenas por que... bem, porque é o que os minions devem fazer.
Os minions de carne e osso não podem usar essa justificativa. Assim como qualquer outro nascido humano, eles foram amaldiçoados com o livre arbítrio. Porém, encontram na atitude minion um porto seguro. Em troca do pequeno sacrifício de abrir mão de quaisquer virtudes e ideias próprias, ganham acesso a um vasto leque de benefícios materiais, acessíveis apenas àqueles que sabem como agradar aos poderosos.
Claro que há outras vantagens em ser minion. Por exemplo, não se aborrecer com divagações inúteis e julgamentos morais a cada pequena decisão. Basta seguir o chefe, e não pensar mais nisso. Ele deve ter razão, afinal, ele é o chefe. E se não tiver razão, bem, ele é o chefe. Depois, quem se importa em ter razão?
Os minions orgânicos e os de pixels sofrem de forma idêntica ao perder a referência do líder. Ficam atarantados, abobalhados, até depressivos. A vida parece perder o sentido. Observá-los assim é curioso, mas não chega a ser engraçado, pois a tristeza e confusão que as criaturinhas emanam é quase contagiosa. Nesses momentos, se nos esquecermos do que eles fizeram no verão passado, podemos até ficar com pena deles. Principalmente se dermos ouvidos ao arsenal de desculpas que faz parte do kit básico de qualquer minion contemporâneo: estava apenas cumprindo ordens, não tive culpa, o sistema é assim mesmo, apenas executei, não tenho nada com isso, a ideia foi dele, não sabia que isso podia acontecer, blá-blá-blá banaaanaaaas.
Perdoe-os, se for um bom pagão. Mas é melhor nunca esquecer, porque eles estarão sempre prontos para fazer tudo de novo. Basta encontrarem um novo malvado para seguir.


4 comentários:

  1. Como sempre um exímio escritor!!! Continue, não pare. Sempre vale a pena ler novos pontos de vista e textos que abrem a mente.

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