O primeiro debate entre os presidenciáveis pode não ter alterado muito a percepção do eleitor no tocante à qualidade dos nossos políticos. Mas mostrou, pelo menos, uma elogiável diversidade. A se julgar pelas imagens que os candidatos tentaram transmitir, há opções de voto para todos os gostos.
Temos um mauricinho de família
tradicional, posando de liberal clássico, falando em segurança e
previsibilidade. Falha da produção (aliás, quanto será que ganham esses assessores de
campanha?), pois nada mais seguro e previsível do que continuar com quem já
está lá. Conclusão lógica que foi reforçada pelas falas da candidata à reeleição, que insistiu em
mirar o passado para pregar a continuidade dos programas sociais e vender o seu modelo de Estado desenvolvimentista e
proativo. Além, claro, de comparar das gestões do seu partido com as do rival, embate que a essa altura já ganhou mais reprises que os filmes oitentistas da Sessão da Tarde.
Quando tudo parecia muito chato na
primeira fila, eis que surge a esquerda hippie roubando a
cena. O porta-voz dos verdes abriu o debate clamando pela legalização da
maconha e encerrou citando Gandhi, Tolstoi e John Lennon. Ao longo do caminho atirou
para todos os lados, chamando à luz temas que os “grandes” candidatos não querem
discutir, como aborto, reforma política e auditoria da dívida pública.
Para quem o achou moderado, tivemos
também a candidata que incorporou (de forma equivocada, a meu ver) a esquerda
raivosa. Remoendo suas antigas picuinhas com o PT, apontando o candidato pastor como responsável pela violência homofóbica, e mesmo nos seus melhores momentos, quando apontava para o alvo
perfeito (condenando a eterna subordinação dos nossos governos aos interesses do capital),
sempre pareceu mais disposta a destruir do que a construir. Não à toa, terminou
o debate levando um “pito” do candidato do PV, após entregar de bandeja para o oponente o
bordão paz e amor. Se Luciana parecia pronta para sacar uma espingarda, tudo
que Eduardo Jorge queria era deixar o palco cantando “Imagine”. Quem diria, conseguiu.
Claro, o quadro não estaria completo
sem uma dupla de ultraconservadores ignorando tudo que a sociedade evoluiu
desde o século XIX (com boa vontade, quiçá eles estejam mais para o século XV). E que
modo melhor de fechar um debate presidencial do que declarando ter orgulho de
ser retrógrado? Mas que bom, afinal, precisamos respeitar as diferenças. Quem sente “saudades” dos
valores da Idade Média também merece ter um candidato para votar. E acabou
ganhando dois!
Então, temos todas essas opções. E,
claro, também temos Marina, renascida das cinzas de um avião despedaçado na
cidade de Santos. E quem seria Marina?
Ela é a pregadora da “nova política”
que promete acabar com a polarização PT-PSDB convocando para junto dela o PT e
o PSDB. É a evangélica fervorosa que vai garantir o direito de sermos ateus. É a ex-ministra controversa, taxada de intransigente, que chegou aos estúdios em transe zen, como se saída de uma sessão de
doze horas com o Mestre Yoda. É a candidata que critica Dilma, mas reverencia Lula. Que trata
Aécio com a indulgência que dedicamos a uma criança levada, mas afaga FHC. É a ambientalista que vai impulsionar o
agronegócio. É a militante histórica de esquerda que agora anda de braços dados com grandes
capitalistas. É a “segunda via” da direita que já começa a ser chamada de “risco” e
“aventura” pelos opositores que brotam de todos os lados. Como são tolos, não percebem que às vezes uma aventura é tudo que alguém
pode querer. Ela é o tudo e o nada (obrigado por essa, Paulo e Raul!).
Pois é, não sei quem é Marina Silva,
nem o que ela realmente pretende fazer. Mas creio que ela saiba muito bem para onde está indo. E, pelo que vimos na noite de ontem, parece ser aquela que tem o melhor
plano para chegar lá. Ou teria apenas 12% de um plano? De um modo ou de outro, não vai demorar muito para descobrirmos.