segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Os melhores dias de nossas vidas


E o Rio de Janeiro sediou os jogos olímpicos.
Não houve, que surpresa!, caos urbano, blecaute, arrastão, ataque terrorista. As “arenas olímpicas” não desabaram sobre os espectadores, o vírus Zika não provocou um genocídio. No fim das contas, quem deu o maior vexame foi um norte-americano, pensando que poderia iludir com um assalto imaginário um povo tão acostumado a violência real.
Seria bom se, agora, pudéssemos dizer que o Rio de Janeiro e o Brasil “provaram” que podem promover grandes eventos. Como se já não tivéssemos realizado os Jogos Pan-Americanos de 2007, ou a Copa do Mundo de 2014. Será nossa baixa auto-estima inabalável? O próximo evento a ser organizado no Brasil também será antecedido por um festival de lamúrias, auto-imolação e profecias de tragédias? Ou desistiremos de lutar com os fatos e reconheceremos, enfim, que não somos um completo desastre?
Não que a mera ausência de catástrofes signifique que o olimpismo passou incólume pelo Rio. Dificilmente veríamos em outras paragens fatos pitorescos como um medalhista olímpico do judô (supostamente) embriagado apanhando do recepcionista de um hotel após ser (supostamente) furtado por uma prostituta, competições de atletismo terminando em peixinhos, ou torcida pelo juiz numa luta de boxe. Duvido também que Lochte tivesse coragem de contar suas fábulas para sisudos policiais japoneses, e que algum jornalista francês venha a creditar as conquistas nipônicas nos jogos de 2020 ao candomblé. Resistirá nosso complexo de vira-lata à constatação de que, além da cidade não ter explodido, estrangeiros também ficam bêbados, fazem bobagens pelas ruas, inventam histórias escabrosas e escrevem asneiras nos seus jornais?
Sinceramente, espero que não. Porque de todos os “legados” que possamos herdar dos jogos olímpicos - linhas de metrô, BRTs, escolas, quadras, referências positivas na mídia internacional – nada seria mais importante do que manter acesa uma mínima centelha de orgulho pelo que somos, e a crença de que, se o Rio de Janeiro foi o lugar mais maravilhoso do planeta por dezessete dias, ele não precisa ser e não será o pior lugar do mundo agora que a chama olímpica se apagou.
Claro que o Rio da segunda não é o Rio do domingo. Usain Bolt não corre mais no Engenho de Dentro, mas o povo precisa continuar correndo para pegar o trem. Nosso primeiro medalhista, Felipe Wu, descansa suas armas, mas na Cidade de Deus (e de Rafaela Silva) já teve tiroteio. As filas do Parque Olímpico foram transferidas para o aeroporto. Enquanto os cariocas seguem na fila do ponto de ônibus, do posto de saúde, da agência de empregos, milhares de atletas e turistas lotam aviões pra deixar a capital do melhor e do pior do Brasil, acreditando que viram o nosso melhor.
E nós ficamos para provar que eles estão enganados. Que o nosso melhor ainda está por vir.