John Constantine é um personagem de destaque na linha adulta de quadrinhos da Detective Comics. Ocultista, demonologista, fumante inveterado, cínico e arrogante. Apesar de (ou por causa de) toda sua falta de escrúpulos e virtudes, o anti-herói arregimentou uma considerável legião de fãs. Após o sucesso de Arrow, era previsível uma enxurrada de séries inspiradas nos quadrinhos da DC, e em 2014 ela veio com Flash, Gotham e, claro, Constantine.
Infelizmente, a primeira
temporada não teve o sucesso esperado, e a produção foi interrompida pela NBC
após somente treze episódios. Há boatos sobre uma renovação da série na
própria NBC, ou (o que parece mais provável) sua transferência para algum outro
canal. Como o futuro é incerto, vamos logo ao assunto: minhas
impressões sobre a primeira temporada de Constantine.
Malgrado a ameaça de cancelamento, a série não é ruim. Matt Ryan
convence como John Constantine, o que ajuda muito a trama, já que todos os
conflitos giram em torno do seu astro. Pena que os coadjuvantes não
acompanham o ritmo. O “team Constantine”, composto pela vidente Zed (sim, ela é
bem bonita!) e pelo motorista e pau-pra-toda-obra Chas (OMG they killed Kenny,
er, Chas), transita apaticamente pelos episódios, a maior parte do tempo se
limitando a seguir as pegadas do protagonista. Deviam saber que não é muito
inteligente confiar em John Constantine :). Há raros momentos em que Zed e Chas
emanam luz própria, ou entram em conflito com John; não por acaso, quando isto
acontece o nível da série dá um salto. Fica até difícil avaliar o
desempenho desses atores, quando a história foi tão pouco generosa com seus
personagens. Para não ficar em cima do muro, acho que Charles Halford (Chas) se
sai melhor do que Angélica Celaya (Zed), que pelo menos é brilhante na função
de enfeitar a tela. Harold Perrineau, mais conhecido como o mala Michael
de Lost, completa o elenco principal interpretando um anjo que
busca a ajuda de Constantine para deter as “trevas ascendentes”.
Essa ameaça, que seria o fio condutor do roteiro, permanece etérea
ao longo de toda a temporada: não sabemos o que John precisa fazer para deter a
“ascensão das trevas”, aliás, nem ele sabe, ou parece se preocupar realmente
com isso. Constantine e sua trupe enfrentam as ameaças na medida em que elas
aparecem, e pronto. O problema (mais um) é que Supernatural faz
isso melhor há dez temporadas, com a vantagem extra de integrar melhor os episódios "avulsos" ao plot principal.
Intensidade talvez seja a melhor palavra para definir o que faltou, até aqui, em Constantine. A boa atuação de Ryan não
é suficiente para empolgar em meio a coadjuvantes apagados, um roteiro não
mais que mediano, e uma atmosfera de terror light que não me pareceu a mais adequada
para o personagem. O que não impediu, porém, que fossem cometidos alguns
episódios muito bons. Destaco o 1.03, Feast
of Friends, o 1.10, Quid
pro Quo, e o derradeiro 1.13, Waiting
for the man, para mim, o melhor da série. Aliás, eis
algo de positivo a se dizer, que pode alimentar a esperança de uma segunda
temporada: houve uma sensível melhora nos quatro episódios finais. Talvez a
equipe esteja acertando a mão, e Constantine ainda seja capaz de entregar aquilo
que promete. Porque a impressão que fica é que havia
potencial para ser muito melhor. Que será uma pena se não virmos mais Matt Ryan
como John Constantine.
Pesando tudo, daria uma
nota sete para a primeira temporada de Constantine.
A série patina entre o bom e o regular, o que não costuma bastar para
garantir um lugar ao sol no concorridíssimo mercado televisivo norte-americano atual, pontuado
por produções de altíssima qualidade (aguardem o post sobre a melhor que assisti nos
últimos tempos, True Detective).
Mas, para encerrar, vamos responder à pergunta que impulsiona aqueles que resolvem ler uma crítica: devo assistir à série?
Bem, se você é fã do
personagem, óbvio que sim. Se não o conhece, nem costuma gostar de histórias
sobrenaturais, pode passar longe. Se não é fã, mas gosta do gênero, depende da sua agenda. Se
estiver em dia com Supernatural, American Horror Story e Penny
Dreadful, não custa passar umas dez horinhas com John Constantine. Espero que sejam agradáveis e, ao final delas, também comece a torcer para que o mago mais sacana dos quadrinhos volte às telas, levando o inferno ao Inferno por mais algumas temporadas.
#saveconstantine