“No futuro todos serão famosos por 15 minutos.” Quando
cometeu essa frase, na década de 60, talvez Andy Warhol soubesse que ela
atravessaria décadas, e que ele próprio se tornaria um ícone do pós-modernismo
e de um mundo que já migrava numa espiral de superinformação e
superficialidade. Talvez até mesmo visualizasse a Internet, os reality shows, as
guerras em que mísseis são disparados por comandos de videogame. Mas suspeito que, se estivesse vivo hoje, mesmo um visionário como Warhol
se espantaria com a intensidade do alcance da sua profecia.
As celebridades instantâneas do século XXI não são mais
apenas os vencedores do American Idol;
agora, a morte e a destruição também são servidas em lata. Chegamos ao ponto em
que se tornou mais importante discutir quais mortes “merecem” nossa lamentação
e um registro na linha do tempo das redes sociais do que parar para refletir,
por mais de 15 minutos, sobre o que nos tornamos e como pudemos, sem perceber,
construir um mundo tão cínico e insensato.
Vamos, então, parar por 17 minutos e reconhecer que
existe algo de profundamente errado num mundo em que inocentes são metralhados por
fanáticos religiosos; e tampouco é muito promissor o mundo em que cidades
inteiras são soterradas por um mar de lama, porque um punhado de executivos
decidiu que aumentar as margens de lucro é mais importante do que preservar a
vida. Como se não fosse o bastante, tudo isso se passou no mesmo mundo; e enquanto
decidimos entre hastear a bandeira da França ou a do Brasil, mais 27 mortos no
Mali.
As tragédias de Paris, Mariana e Mali tem muito em comum,
além do rastro de corpos e da bizarra disputa por atenção midiática. Todas
refletem o resultado da banalização da morte, do desprezo pela vida humana. Por
Deus, por dinheiro, ou pelos dois; de repente, a única coisa real que temos se
tornou desimportante, sufocada por coisas que inventamos.
E tudo parece tão complicado, e parece impossível
encontrar uma solução que não demore, com otimismo, centenas de anos. Quantas
décadas para recuperar um rio morto? Quantos séculos até formarmos gerações que
deixem de acreditar numa recompensa divina para aqueles que derramam o sangue
dos infiéis? Quantas guerras até vencermos a guerra que não sabemos como vencer?
Gostaria de dizer que é fácil, se tentarmos. Mas a
verdade é que estamos viciados em autodestruição, e livrar-se de um vício nunca
é fácil. Não viveremos o bastante para ver um mundo livre da insanidade e da
ganância, e isso parece absolutamente frustrante. Podemos, contudo, um dia de
cada vez, sermos sensatos e gentis. Podemos, um dia de cada vez, ensinar aos
nossos filhos que não há paraíso no céu para aqueles que praticam o inferno na Terra.
Podemos, um dia de cada vez, sufocar aqueles que vivem do ódio preenchendo o mundo com amor.
E assim, um dia de cada vez, eles serão derrotados. Pois sempre haverá quem insista na alegria de viver.
(Eu não vou lhes dar o presente
de odiar vocês.)
(Antoine Leiris, que
perdeu sua esposa nos ataques em Paris.)