segunda-feira, 13 de julho de 2015

Quem quer ser um milionário?


Quando criança, pensava que todo comerciante era rico. Não tinha a menor ideia do que significava “ter a posse dos meios de produção”, mas concluía de uma forma simplista que, se alguém tinha empregados e um monte de coisas pra vender, devia ter muito dinheiro.
Também queria ser trilhardário quando crescesse, igual ao Tio Patinhas. As histórias da Disney me mostraram, ainda, que ser dono de uma loja não era a única maneira de enriquecer. Havia atalhos para a fortuna, como encontrar minas de ouro ou poços de petróleo.
Com o tempo, descobri que minas de ouro e poços de petróleo são bem difíceis de encontrar, que montar o próprio negócio não é garantia de sucesso, e que os atalhos geralmente são sombrios. Percebi também que há coisas mais importantes a se fazer na vida do que tentar juntar uma enorme quantidade de dinheiro.
Mas, se alguns dos sonhos infantis se revelaram inadequados, minha percepção geral sobre os caminhos da fortuna até que era razoavelmente precisa. Empreendimentos envolvem riscos e, por isso, possibilitam retornos mais elevados. Aqueles que evitam os riscos envolvidos numa empresa própria, como os empregados dos comerciantes, devem se conformar com rendimentos menores.
Não foi pequena a surpresa quando constatei que a realidade comportava inúmeras, incontáveis exceções a essa regra, e que há funcionários públicos que conseguem a proeza de usufruir de rendimentos constantes e seguros, estabilidade no emprego, e ainda por cima acumular patrimônios nababescos. Não me refiro àqueles que são muito bem remunerados e, por conseguinte, usufruem de um padrão de vida confortável, bem superior a média da população, mas compatíveis com os seus vencimentos. Falo de autênticos gênios das finanças, que decuplicam seu patrimônio pessoal a cada ano, que alcançam retornos sobre o capital que fazem George Soros e Warren Buffett parecerem iniciantes sem talento.
Logo imaginei que minha visão inicial de risco x retorno estivesse radicalmente equivocada. Que fosse possível conciliar altos retornos com baixo risco. Toda essa gente seria a prova viva disso. Mas, ufa, não foi desta vez que me enganei. Errados estavam eles, ao se imaginarem imunes a qualquer perigo. Ou, talvez, até estivessem certos no passado. Mas não agora, quando finalmente explodem alguns dos riscos inerentes à empreitada em que se lançaram: o risco de encarar ônibus superlotados; de terem suas habilidades de investidores questionadas; de serem chamados (caluniados?) de mafiosos na primeira página dos jornais; e, afronta das afrontas, de precisarem passar férias em acomodações incompatíveis com o garbo de sua posição social.
Há quem permaneça cético. Há quem assevere que as coisas mudam apenas para permanecerem as mesmas, ou, como dizia o poeta, que o futuro repetirá o passado. Assim, crentes de que continuamos num museu de grandes novidades, já se preparam para voltar a fazer tudo tudo sempre igual.
Pois eu prefiro parodiar outras poesias, e acreditar que, para quem sempre se imaginou acima da lei, o futuro não é mais tão bacana como na semana passada. Que o temporal não passará tão cedo, não antes de varrer muito mais sujeira para o fundo dos esgotos.


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