Quando criança, pensava que todo comerciante era rico.
Não tinha a menor ideia do que significava “ter a posse dos meios de
produção”, mas concluía de uma forma simplista que, se alguém tinha empregados
e um monte de coisas pra vender, devia ter muito dinheiro.
Também queria ser trilhardário quando crescesse, igual ao
Tio Patinhas. As histórias da Disney me mostraram, ainda, que ser dono de uma
loja não era a única maneira de enriquecer. Havia atalhos para a fortuna, como
encontrar minas de ouro ou poços de petróleo.
Com o tempo, descobri que minas de ouro e poços de
petróleo são bem difíceis de encontrar, que montar o próprio negócio não é
garantia de sucesso, e que os atalhos geralmente são sombrios. Percebi também
que há coisas mais importantes a se fazer na vida do que tentar juntar uma
enorme quantidade de dinheiro.
Mas, se alguns dos sonhos infantis se revelaram
inadequados, minha percepção geral sobre os caminhos da fortuna até que era
razoavelmente precisa. Empreendimentos envolvem riscos e, por isso,
possibilitam retornos mais elevados. Aqueles que evitam os riscos envolvidos
numa empresa própria, como os empregados dos comerciantes, devem se conformar
com rendimentos menores.
Não foi pequena a surpresa quando constatei que a
realidade comportava inúmeras, incontáveis exceções a essa regra, e que há
funcionários públicos que conseguem a proeza de usufruir de rendimentos
constantes e seguros, estabilidade no emprego, e ainda por
cima acumular patrimônios nababescos. Não me refiro àqueles que são
muito bem remunerados e, por conseguinte, usufruem de um padrão de vida
confortável, bem superior a média da população, mas compatíveis com os seus vencimentos. Falo de autênticos gênios das finanças, que decuplicam seu
patrimônio pessoal a cada ano, que alcançam retornos sobre o capital que fazem
George Soros e Warren Buffett parecerem iniciantes sem talento.
Logo imaginei que minha visão inicial de risco x retorno
estivesse radicalmente equivocada. Que fosse possível conciliar altos retornos
com baixo risco. Toda essa gente seria a prova viva disso. Mas, ufa, não foi
desta vez que me enganei. Errados estavam eles, ao se imaginarem imunes a qualquer perigo.
Ou, talvez, até estivessem certos no passado. Mas não agora,
quando finalmente explodem alguns dos riscos inerentes à empreitada em que se lançaram:
o risco de encarar ônibus superlotados; de terem suas habilidades de
investidores questionadas; de serem chamados (caluniados?) de mafiosos na primeira página dos
jornais; e, afronta das afrontas, de precisarem passar férias em acomodações incompatíveis com o garbo de sua posição social.
Há quem permaneça cético. Há quem assevere que as coisas
mudam apenas para permanecerem as mesmas, ou, como dizia o poeta, que o futuro repetirá
o passado. Assim, crentes de que continuamos num museu de grandes novidades, já
se preparam para voltar a fazer tudo tudo sempre igual.
Pois eu prefiro parodiar outras poesias, e acreditar que,
para quem sempre se imaginou acima da lei, o futuro não é mais tão bacana como
na semana passada. Que o temporal não passará tão cedo, não antes de varrer
muito mais sujeira para o fundo dos esgotos.
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