terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sobre os “rolés”, ou: Tudo que precisamos saber, podemos aprender com as crianças.


O assunto mais importante do mundo na última semana é o tal do “rolezinho”, que vem aterrorizando os pacatos cidadãos paulistanos, ávidos frequentadores de estranhas redomas, dentro das quais ficam circulando por horas e horas olhando vitrines e consumindo gororobas. 

Esse ambiente até então asséptico e controlado vem sendo invadido por alienígenas oriundos dos rincões mais inóspitos da grande pequena cidade. Os usurpadores tomam de assalto os corredores em tropéis desabalados, entoando cânticos estranhos, aos brados, recheados de termos chulos e ofensivos, que afligem os castos ouvidos e a refinada sensibilidade dos habituais frequentadores desses santuários.

Inicialmente, planejava abordar o tema sob um contexto jurídico. Já tinha pensado inclusive nas linhas gerais do texto, dissertando sobre o direito de reunião, sobre a Lei 7.716, e principalmente sobre Minority Report*. Mas percebi que a questão é infantilmente mais simples.

Neste ponto, é preciso uma breve contextualização. Sou o feliz pai de uma criança de quatro anos, o Felipe, e de um bebê de seis meses, a Nicole. Invariavelmente, quando estou sozinho com a Nicole, numa paz angelical que só bebês conseguem proporcionar, o Felipe irrompe como um bólido descontrolado. Além dos gritos e cantorias de praxe, incluem-se no seu repertório os puxões tentando derrubá-la do meu colo ou, se ela estiver deitada, os saltos acrobáticos que invariavelmente tiram fino da frágil cabecinha da pequena e quase me causam um ataque cardíaco.

Já tentamos modificar o comportamento dele de todas as maneiras imagináveis. Mas, desde os açucarados diálogos até a forte repreensão (tá, berros histéricos, dos quais devemos nos envergonhar), nada funciona. O Felipe só volta a ter um comportamento relativamente pacífico quando deixo a Nicole de lado e lhe dedico atenção exclusiva, nem que seja para ele ficar só repetindo “Pai, pai, deixa eu falar uma coisa?”, sem nunca chegar nessa “coisa” que tanto queria dizer.

Não sei se os frequentadores dos “rolezinhos” tem alguma coisa a dizer. Acredito que tenham, ainda que eles próprios possam não saber disso. Certamente, seria preferível para a maioria dos tradicionais habitantes das redomas que eles se expressassem de maneira mais ordeira, sem correrias e palavrões. Mas o problema, no fundo, é que ninguém nunca deu qualquer atenção a eles até que começassem a gritar. E agora não vai ter polícia, bandido, juiz, playboy ou general que os faça calar. Pelo menos, não até que comecemos a escutar.

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