No próximo domingo, 05 de outubro, não vamos ao
Maracanã. Mas um
navegante desavisado, ao conferir as manifestações nas ruas e redes
sociais, bem poderia achar que essas siglas com “P” são de times de futebol,
tal o fanatismo que alguns empenham na defesa dos seus candidatos – ou, até com
mais frequência, no ataque aos outros.
Embora não tenha a mínima intenção de entrar nessa, até por nenhum candidato me empolgar ao ponto de
provocar esse nível de engajamento, acho até positivo que as pessoas manifestem
suas preferências. Há, porém, uma série de coisas que me incomoda no modo como
isso acontece em período eleitoral.
O primeiro é o já citado “futebolismo”. Não é
política, estúpido, são eleições. A quase totalidade das pessoas que se
manifesta nessa época não está disposta a debater sobre nada. Querem apenas falar
bem dos seus candidatos e mal dos outros. Agem, assim, do mesmo modo que os
políticos cujas práticas atacam: vale tudo, desde que seja pro meu preferido
vencer. Porque ele é muito melhor que os outros e, com ele, agora vai.
Não descarto a possibilidade de que essas pessoas,
que às vezes parecem estar babando de fúria ao discutir “política”, estejam com
as melhores intenções. Que realmente acreditem no virtuosismo dos seus
eleitos, e depositem neles a esperança de uma retumbante redenção para o
nosso tão castigado país. No fundo, gostaria de acreditar nisso também. A vida
seria bem mais fácil, eu sairia compartilhando dezenas de memes no facebook e
no domingo iria todo feliz para a maquininha, apertar “xx”. Mas o realismo
ingênuo, infelizmente, ainda não conseguiu me capturar ao ponto de eu ter
absoluta certeza sobre nada. Assim, sou incapaz de replicar certos comportamentos e sair afirmando que quem vota no candidato “b” é idiota, quem vota no “c”
só pode ser alienado ou corrupto, e coisas desse tipo. Para aqueles que vivem bem com essas certezas, vou sugerir o oposto do que certa
candidata sugeriu a um comediante que se acha intelectual: não estudem. A
ignorância é uma benção. Mas, se não tem a mínima ideia do que é esse tal
“realismo ingênuo”, e quiserem entender um pouquinho, sugiro que iniciem por esse
texto, Dysrationalia e os vieses da razão.
Passo
ao largo, portanto, tanto do fanatismo como da ilusão. Não deixo de ter, claro,
predileção por alguns candidatos, maior aversão por outros. Mas não enxergo,
principalmente nos postulantes à Presidência com chances reais de serem
eleitos, diferenças tão grandes que me façam acreditar, nem por um momento, nas
profecias do apocalipse da oposição, nem no futuro brilhante prometido pelos
governistas. O que acredito é que o futuro do país depende muito mais do que
faremos, como sociedade, do que dos números que apertaremos na maquininha. E
dessa crença decorre o principal motivo do meu incômodo com a transformação da
política em Fla x Flu.
Não se
preocupem militantes, não é um incômodo nível Levy Fidélix, não acho que vocês
tenham que se tratar numa ilha. Ao contrário, gostaria é que
continuassem dando as caras, demonstrando essa disposição também fora do
período eleitoral. E, talvez, com os ânimos menos inflamados, direcionassem a
energia não só para defender um ou outro partido, mas para atuar politicamente
de verdade. Discutindo ideias, e não batendo boca. Participando de associações
de classe, de ONGs, até de partidos políticos, se tiverem estômago.
Fiscalizando a atuação dos políticos que elegemos. Acompanhando as contas
públicas. Combatendo a corrupção e os maus hábitos no cotidiano, em vez de
apenas compartilhar denúncias de “escândalos”. Abraçando bandeiras universais,
como os direitos humanos, o combate à intolerância e ao preconceito. Enfim,
fazendo qualquer coisa que tenha a mínima probabilidade de ser construtiva. Até
escrever num blog vale. :)
Sinceramente, desejo que isso aconteça muito mais do
que “torço” pela vitória de qualquer candidato. Mas, como caí na besteira de
escolher a pílula vermelha, sei que não é assim que vai ser. Até domingo, e
depois, havendo segundo turno, as pessoas continuarão enxergando anjos e
demônios. Pouco depois, irão tomar conta das próprias vidas, até as próximas
eleições, quando elegerão novos salvadores da pátria.
Pois, para mim, esse domingo não será muito diferente
de qualquer outro. Sim, o que for decidido no domingo valerá pelos próximos
quatro anos. Mas não importam os nomes que saiam daquelas urnas, não é neles
que está o poder de transformar o país e melhorar as nossas vidas. Só nós
podemos fazer isso. Mas dá muito trabalho, então, é melhor ficarmos brigando
uns com os outros a cada quatro anos.
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